Análise Histórica dos Indicadores Educacionais

de Salinas da Margarida

Um Olhar Crítico às Vésperas do SAEB 2025

À medida em que a Rede Municipal de Educação se prepara para a aplicação do SAEB 2025, nos encontramos em uma encruzilhada crítica. Este não é apenas mais um momento de avaliação externa, mas uma oportunidade imperativa para um balanço honesto das políticas públicas adotadas pela gestão da educação municipal na última década. Repetiremos as mesmas estratégias, esperando resultados milagrosos, ou usaremos a iminência do novo diagnóstico para questionar fundamentalmente o caminho percorrido até aqui?

Os dados históricos apresentados nesta página revelam um paradoxo que persiste ao longo do tempo: vultosos e contínuos investimentos em "soluções pedagógicas externas" que, na prática, não se converteram em avanços significativos na aprendizagem dos nossos alunos. A análise que se segue não é, portanto, um mero exercício de retrospectiva baseado em ilações. É um alerta, fundamentado em evidências materiais e observacionais, de que o modelo de "compra de resultados" se mostra inerte e ineficaz.

O objetivo deste documento é utilizar a análise histórica dos dados como um espelho para o presente. Ao detalhar a anatomia de um ciclo perdido, esperamos fomentar uma reflexão urgente entre educadores, gestores e a comunidade, para que o SAEB 2025 não seja apenas mais um retrato da dificuldade, mas o ponto de partida para uma genuína e necessária mudança de rota na educação municipal.

Série Histórica: Aprendizado Adequado (2017-2023)

O gráfico a seguir mostra a evolução do percentual de alunos que atingiram o nível de aprendizado "adequado" (soma dos níveis Proficiente e Avançado) nas avaliações do SAEB.

Evolução do IDEB - Anos Finais (2013-2023)

Este gráfico demonstra a trajetória da nota do IDEB para os anos finais na rede municipal, comparando a nota observada com a meta projetada pelo INEP.

Análise Crítica: O Paradoxo do Desempenho

A busca pela melhoria dos indicadores educacionais, por si só, levou muitos municípios, assim como Salinas da Margarida, a adotarem a compra de soluções pedagógicas milagrosas, comercializadas por grandes grupos editoriais. Contudo, uma análise aprofundada dos nossos dados revela um paradoxo preocupante: o investimento financeiro crescente não se traduz em avanço na aprendizagem e ainda se revela num desvirtuamento dos propósitos da avaliação em larga escala.

O Programa "Aprova Brasil"

Para fundamentar a análise, investiguei a implementação de um dos principais programas externos no município. Os dados de contratação, quando cruzados com os resultados de aprendizagem, fornecem um retrato claro do custo-benefício desta política pública.

> R$ 2,5 Milhões
Investimento Estimado (2018-2024)
Desde 2018
Implementação Contínua na Rede
Inexigibilidade
Modalidade de Contratação

Investimento Acumulado vs. Aprendizagem em Matemática (Anos Finais)

Investimento Acumulado vs. Aprendizagem em Língua Portuguesa (Anos Finais)

Análise do Custo-Benefício Pedagógico:

Os gráficos acima são taxativos. Em ambas as disciplinas, as barras de investimento acumulado crescem exponencialmente, enquanto as linhas de aprendizagem adequada permanecem estagnadas. A disparidade é brutal em Matemática, mas mesmo em Língua Portuguesa, onde o patamar é mais alto, a tendência é de estagnação, não havendo qualquer sinal de que o investimento de mais de R$ 2,5 milhões tenha gerado o retorno pedagógico esperado.

Reflexões Finais

O estudo de caso de Salinas da Margarida é emblemático de uma escolha de política educacional recorrente no Brasil: a busca por "soluções prontas" e externas em detrimento do investimento no capital humano e intelectual que constitui a própria rede de ensino. A ineficácia do modelo, demonstrada pelos dados, convida a uma reflexão sobre caminhos alternativos e mais sustentáveis.

Por que Programas Externos Frequentemente Falham?

A falha não reside no material em si - embora possa ser bastante questionado -, mas na lógica que o sustenta. Tais programas são, por natureza, descontextualizados e posicionam o professor como um mero "aplicador" de um modelo alheio, cerceando sua autonomia, além de reduzir os conteúdos estudados aos descritores que norteiam as questões da prova, transformando o ano final de cada período em um mero treinamento para a prova, e não para a construção das aprendizagens, cuja causa da estagnação é quase sempre mais complexa e estrutural.

O Caminho Alternativo: Investir em Pessoas, Não em Produtos

A alternativa a essa lógica de consumo é o investimento na produção local de conhecimento pedagógico. Isso se traduz, fundamentalmente, em:

  • Formação Continuada de Qualidade: Um processo contínuo e colaborativo, onde os professores, como intelectuais, analisam seus próprios dados e das escolas em círculos de avaliação para construirem coletivamente as soluções para os seus desafios.
  • Valorização Profissional e Salarial: Um professor valorizado tem mais estímulo para se dedicar à formação e à inovação pedagógica. O respeito intelectual ao docente é premissa para a qualidade da educação.
  • Fortalecimento da Autonomia Escolar: Investir para que cada escola, com sua comunidade ampla, fortaleça seu Projeto Político-Pedagógico (PPP), materialize os seus Conselhos Escolares gerando práticas significativas e eficazes.

Em última análise, os dados não apontam apenas para o fracasso de um programa, mas para o esgotamento de um modelo que destrói o magistério em detrimento das empresas da educação. A melhoria real da educação não virá de uma prateleira de editora; ela será sempre resultado de uma construção interna que tem no professor bem formado e valorizado o seu protagonista insubstituível.

Fontes dos Dados