À medida em que a Rede Municipal de Educação se prepara para a aplicação do SAEB 2025, nos encontramos em uma encruzilhada crítica. Este não é apenas mais um momento de avaliação externa, mas uma oportunidade imperativa para um balanço honesto das políticas públicas adotadas pela gestão da educação municipal na última década. Repetiremos as mesmas estratégias, esperando resultados milagrosos, ou usaremos a iminência do novo diagnóstico para questionar fundamentalmente o caminho percorrido até aqui?
Os dados históricos apresentados nesta página revelam um paradoxo que persiste ao longo do tempo: vultosos e contínuos investimentos em "soluções pedagógicas externas" que, na prática, não se converteram em avanços significativos na aprendizagem dos nossos alunos. A análise que se segue não é, portanto, um mero exercício de retrospectiva baseado em ilações. É um alerta, fundamentado em evidências materiais e observacionais, de que o modelo de "compra de resultados" se mostra inerte e ineficaz.
O objetivo deste documento é utilizar a análise histórica dos dados como um espelho para o presente. Ao detalhar a anatomia de um ciclo perdido, esperamos fomentar uma reflexão urgente entre educadores, gestores e a comunidade, para que o SAEB 2025 não seja apenas mais um retrato da dificuldade, mas o ponto de partida para uma genuína e necessária mudança de rota na educação municipal.
O gráfico a seguir mostra a evolução do percentual de alunos que atingiram o nível de aprendizado "adequado" (soma dos níveis Proficiente e Avançado) nas avaliações do SAEB.
Este gráfico demonstra a trajetória da nota do IDEB para os anos finais na rede municipal, comparando a nota observada com a meta projetada pelo INEP.
A busca pela melhoria dos indicadores educacionais, por si só, levou muitos municípios, assim como Salinas da Margarida, a adotarem a compra de soluções pedagógicas milagrosas, comercializadas por grandes grupos editoriais. Contudo, uma análise aprofundada dos nossos dados revela um paradoxo preocupante: o investimento financeiro crescente não se traduz em avanço na aprendizagem e ainda se revela num desvirtuamento dos propósitos da avaliação em larga escala.
Para fundamentar a análise, investiguei a implementação de um dos principais programas externos no município. Os dados de contratação, quando cruzados com os resultados de aprendizagem, fornecem um retrato claro do custo-benefício desta política pública.
Os gráficos acima são taxativos. Em ambas as disciplinas, as barras de investimento acumulado crescem exponencialmente, enquanto as linhas de aprendizagem adequada permanecem estagnadas. A disparidade é brutal em Matemática, mas mesmo em Língua Portuguesa, onde o patamar é mais alto, a tendência é de estagnação, não havendo qualquer sinal de que o investimento de mais de R$ 2,5 milhões tenha gerado o retorno pedagógico esperado.
O estudo de caso de Salinas da Margarida é emblemático de uma escolha de política educacional recorrente no Brasil: a busca por "soluções prontas" e externas em detrimento do investimento no capital humano e intelectual que constitui a própria rede de ensino. A ineficácia do modelo, demonstrada pelos dados, convida a uma reflexão sobre caminhos alternativos e mais sustentáveis.
A falha não reside no material em si - embora possa ser bastante questionado -, mas na lógica que o sustenta. Tais programas são, por natureza, descontextualizados e posicionam o professor como um mero "aplicador" de um modelo alheio, cerceando sua autonomia, além de reduzir os conteúdos estudados aos descritores que norteiam as questões da prova, transformando o ano final de cada período em um mero treinamento para a prova, e não para a construção das aprendizagens, cuja causa da estagnação é quase sempre mais complexa e estrutural.
A alternativa a essa lógica de consumo é o investimento na produção local de conhecimento pedagógico. Isso se traduz, fundamentalmente, em:
Em última análise, os dados não apontam apenas para o fracasso de um programa, mas para o esgotamento de um modelo que destrói o magistério em detrimento das empresas da educação. A melhoria real da educação não virá de uma prateleira de editora; ela será sempre resultado de uma construção interna que tem no professor bem formado e valorizado o seu protagonista insubstituível.